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#Orgulho003 - João Cortês

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Nesse ano durante o mês de Junho que é considerado o mês do Orgulho LGBTQIA+ diversos artistas se posicionaram sobre essa data e mostraram apoio à causa.

Um dos depoimentos mais sinceros e marcantes para mim foi do ator João Cortês que resolveu falar sobre o fato dele ser gay.

Um relato que acredito fazer muito sentido para muitas pessoas e que deixo aqui embaixo para vocês. 

Eu sabia que eu era gay quando tinha uns 14 anos. Foi por aí. Eu sabia, mas na época isso era só um leve impulso. Uma sensação. Era um sentimento abstrato e distante. Nunca soube o que fazer com aquilo. Então eu dobrei e guardei em uma caixinha, embaixo do meu caos emocional. Ninguém liga para isso mesmo... E escondi de mim, dentro de mim, por anos e anos, na esperança deque isso se tornasse cada vez menor, e menor. E o que era distante ficava cada vez mais presente, e o leve e ingênuo impulso, se transformava em vergonha. Vergonha do tamanho de um carrapato, mas ainda assim, vergonha. Isso me bloqueou emocionalmente, e ainda bloqueia. É uma luta contínua. Eu sou um homem branco, cis, de uma família de classe média-alta liberal. Ser aceito nunca foi uma questão, mas isso jamais passou pela minha cabeça. E mesmo sendo privilegiado, eu travei.

Eu to falando isso agora, justamente porque nunca falei sobre isso antes. Eu já me aceitei e me assumi há alguns anos na minha vida pessoal, mas nunca publicamente. E não me deixa de ocorrer o quão importante a representatividade é. Cada vez mais. Passei por todas as fases do processo. Sim, eu joguei esse joguinho insuportável e tedioso: Saía com os amigos e fingia olhar para as mulheres, e eu falava junto. E ainda namorei mulheres. Neguei à muita gente, mesma a amigos que me olhavam e sabiam que eu estava me enganando. Eu dizia não, pensado em sim. Com pavor da palavra gay”. Pavor de me tornar outra pessoa. Pavor de aceitar o meu lado desconhecido. Pra mim era um abismo. Era compactuar com uma força estranha querendo entrar. E eu gastando toda minha energia pra tentar me manter fiel a um papel que simplesmente não me cabia mais.

Eu controlava e censurava minha maneira de falar, de vestir, de sentar, de dançar, de olhar. Censurava minhas referencias, meus pontos de expressão e de representação. Eu fugia de mim mesmo como um rato foge do gato. Essas invasões pra mim hoje são bizarras e humilhantes, mas na época isso acontecia com naturalidade. Discrição era padrão, e me parecia benigno. E por que eu deveria falar alguma coisa? Ninguém tem nada a ver com isso. Eu não tenho que compartilhar detalhes íntimos meus com estranhos... Essas vozes ecoavam no fundo da minha mente, me persuadindo. A vergonha pode ser pesada e muito barulhenta, mas ela também pode se esconder atrás do conforto e conveniência. Mas a vergonha de si mesmo é sempre violenta. Te corrói.

Eu não quero compactuar com a ideia de que ser gay é um problema a ser resolvido. Eu sou extremamente grato por ser gay. É uma benção. É uma solução aos clichês héteros esmagadores. É uma janela aberta pro céu. Um canal de ar puro. Hoje eu valorizo todas as pessoas, as musicas os livros, os filmes, séries, as performances, que me abrem a cabeça. Se você é gay, bi, trans, não-binário, ou ainda se questionando, se você tá confuso, tá sentindo dor, ou vergonha, ou humilhação, ou se você se sente sozinho: Você não tá sozinho, e vocês fazem o mundo mais interessante, surpreendente e suportável! Para todos os queers, desajustados, outsiders e amores da minha vida: Eu amo vocês. Amo e estou aqui por vocês. Prometo que depois da tempestade, a vida fica bem melhor! Confia. E feliz orgulho LGBTQIA+!!

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